Talvez porque não tenha nada para fazer! Talvez porque seja isso mesmo que devo fazer! Talvez porque é necessário que alguém o faça! Talvez esteja apenas a cumprir a minha parte e todos nós devêssemos fazer tal coisa! Talvez porque estou farto de pensar nisto e tenho mesmo que falar com alguém (mesmo que esse alguém sejam, em potência, todos, e na realidade nenhum)! Talvez porque me apeteça gritar bem alto tudo aquilo que digo, e para que seja mesmo muito alto e ruidoso, substituo o nível do volume do meu grito pelo número de ouvidos no auditório, (partindo do princípio que alguém irá escutar, ou neste caso, espreitar e ler). Talvez sim, ou talvez não! Ou parafraseando "o poeta", talvez isto ou aquilo, ou nem isto nem aquilo, tudo e coisa nenhuma. e por falar em "poeta" termino, depois da paráfrase com uma citação do mesmo:
""Não sou nada. Nunca serei nada. Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.(...)
Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer. (...)
Falhei em tudo. Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso tanta coisa! E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Génio? Neste momento cem mil cérebros se concebem em sonho génios como eu, e a história não marcará, quem sabe?, nem um. (...)
Mas o Dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.
Olho-o com o desconforto da cabeça mal voltada
E com o desconforto da alma mal-entendendo.
Ele morrerá e eu morrerei.
Ele deixará a tabuleta, eu deixarei versos.
A certa altura morrerá a tabuleta também, e os versos também.
Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,
E a língua em que foram escritos os versos.
Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.
Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente
Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas,
Sempre uma coisa defronte da outra, Sempre uma coisa tão inútil como a outra ,
Sempre o impossível tão estúpido como o real,
Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.
Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?)
E a realidade plausível cai de repente em cima de mim.
Semiergo-me enérgico, convencido, humano,
E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário.
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